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Michael Burry

Michael Burry – O trader que superou a crise de 2008

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Esse ditado e suas diversas formas existem há milhares de anos, e ele nunca foi mais verdadeiro do que no mundo do trading, com Michael Burry.

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A infância de Michael Burry

Michael Burry nasceu em Nova York, em 1971. Ele teve uma doença rara quando bebê, o que levou à remoção do seu olho esquerdo. Ele cresceu com um olho de vidro, o que afetou a forma como as pessoas o tratavam, afetando fortemente sua história pessoal. Burry sempre teve problemas para lidar com as pessoas, preferindo a solidão e seus próprios interesses.

O interesse que dominou sua juventude foi o estudo da medicina. Ele concluiu a graduação pela Vanderbilt University School of Medicine e, em seguida, fez residência em neurologia no Stanford Hospital and Clinics. Burry trabalhava várias horas por dia e passava o resto do tempo escrevendo sobre trading online. Ele se concentrou no investimento em valor durante a bolha da internet, o que novamente o diferenciou das outras pessoas. 

Não demorou muito para que Burry sentisse que havia aprendido tudo o que podia nos fóruns online. Foi quando ele deu início ao seu próprio blog, embora fosse algo um pouco mais flexível do que um blog tradicional. Essa atividade online tomava três horas da sua noite, indo da meia-noite às 3h.

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Da medicina aos investimentos

Ele logo percebeu que cada vez mais pessoas seguiam seu blog. No início, a fonte de seus leitores era aleatória, mas houve um crescente tráfego de grandes empresas de investimento de Wall Street. Sua influência se tornou óbvia quando ele falou mal do fundo de índice da Vanguard e, por consequência, recebeu uma carta de seus advogados.

À medida que Burry se envolvia e ganhava mais destaque no mundo do trading, ele ficava cada vez menos interessado em medicina. Ele começou a aceitar a verdade de que, embora quisesse ajudar as pessoas, não gostava de lidar com elas pessoalmente. Michael às vezes ficava enojado com a medicina. Ele percebeu que estava na medicina porque era fácil para ele, não porque gostava da área.

Isso levou ao inevitável: ele deixou a medicina e começou a trabalhar como gestor financeiro. Entre suas próprias economias e o que sua família lhe deu, ele tinha cerca de US$40.000; em contrapartida, ele devia US$145.000 pelos seus estudos. Ele decidiu que seus investidores deveriam ter US$15 milhões de patrimônio líquido para ingressar em seu fundo. Embora pareça um valor absurdo, ele via as coisas com muita clareza.

Preparando seu hedge fund

Quando estava montando seu escritório, ele recebeu um telefonema interessante. Era de um homem chamado Joel Greenblatt, que foi o fundador do fundo de investimento Gotham Capital, além de ter escrito um livro chamado “You Can Be a Stock Market Genius”. Ele disse que estava só esperando que Michael deixasse a medicina. Nessa ligação, Joel convidou Michael e sua esposa para um encontro em Nova York.

O encontro gerou certa ansiedade em Burry, o que é típico dele ao conhecer novas pessoas. Felizmente, era quase impossível estragar essa reunião. No escritório da Gotham, eles lhe ofereceram um milhão de dólares para fazerem parte da empresa recém-criada de Michael, o fundo Scion Capital. Isso o deixou surpreso, mas ele aceitou. Esta foi a primeira vez que o Gotham fez algo do tipo.

E eles não foram os únicos. Uma seguradora chamada White Mountain também entrou em contato com Burry. Seu gerente era Jack Byrne, que era amigo de Warren Buffett. Byrne havia descoberto o acordo com o Gotham e também quis participar. Ao final da discussão, a White Mountain comprou uma parte da empresa por US$600.000 e liberou US$10 milhões para que ele investisse. Assim como o Gotham, eles nunca tinham feito algo do tipo antes de conhecerem Burry.

Michael Burry e o Scion Capital

Foi assim que o Scion nasceu. Não apenas isso – ele começou de uma forma completamente sem precedentes. Michael Burry tinha pouco mais de um milhão de dólares para investir. Seu primeiro ano completo foi 2001, quando o retorno do fundo foi de 55%. Esta é uma porcentagem alta, principalmente se considerarmos que o S&P caiu cerca de 12% naquele ano.

Esse retorno não foi uma anomalia. Em 2002, o fundo teve uma alta de 16%, enquanto o mercado caiu 22%. Em 2003, o mercado voltou a subir, atingindo uma alta de 28%; já o Scion obteve uma alta de 50%. Em 2004, o Scion tinha cerca de US$600 milhões e estava recusando cada vez mais investidores, o que era algo incrível para os padrões da indústria. Burry criou o Scion para investidores, não para lucrar. Ele tinha uma forte noção de como fazer as coisas na sua vida e em seus negócios.

Michael Burry descrevia seu estilo como “ick investing”:

O ‘ick investing’ significa ter um interesse analítico especial em ações que inspiram uma primeira reação de ‘ick’.”

Burry, em uma carta de 2001 para seus investidores

Basicamente, Burry encontrava investimentos que desestabilizavam as pessoas quanto à sua reputação inicial, mas na verdade possuíam um bom valor. Investimentos desse tipo tendem a cair primeiro, quando o mercado vende as ações, e então sobem fortemente logo depois que o problema inicial se resolve, quando o valor é percebido pelo mercado.

Investindo em Credit Default Swaps

Essa ideia de “ick investing” levaria o Scion a um nível totalmente novo, o que lhe rendeu certa fama na indústria. O próximo nível veio na forma de Credit Default Swaps (CDSs). Um CDS é basicamente um seguro sobre um empréstimo: se o empréstimo não der certo, o detentor dos CDSs recebe um pagamento. Eles são usados por detentores de empréstimos para cobrir os riscos ou por um investidor que acredite que os empréstimos não darão certo. Eles foram criados na década de 1990 e não eram investimentos muito comuns na época.

Michael Burry começou com US$60 milhões em CDSs do Deutsche Bank – $10 milhões em seis títulos diferentes. Ele foi atrás dos títulos com as piores hipotecas subjacentes, aqueles com maior probabilidade de inadimplência. Ele também se surpreendeu que o Deutsche Bank não se importou em diferenciar esses empréstimos. Eles simplesmente aceitaram a classificação da Standard & Poor’s, apesar de haver uma grande variação entre as categorias de classificação.

Quando Burry comprou seu primeiro CDS sobre títulos hipotecários do Goldman Sachs por US$5 milhões, eles aplaudiram Burry por ser o primeiro a comprá-los. Burry, do seu jeito típico, respondeu dizendo: “Estou educando os especialistas aqui presentes”. Essa citação nunca foi tão verdadeira, mas o Goldman Sachs – ou qualquer outra pessoa – não entenderia até que o mercado provasse que Burry estava certo.

É claro que Burry não parou de comprar CDSs. Em julho, ele tinha US$750 milhões em CDSs em seu fundo. Isso o diferenciava de qualquer outro hedge fund.

Uma abordagem diferente

O uso de CDSs foi visto como uma reviravolta interessante no”ick investing” de Burry. Esse método inverte o padrão típico de investimentos a partir de uma percepção negativa excessiva. Os CDSs sobre títulos hipotecários do tipo subprime eram investimentos reversos, ou seja, geravam dinheiro com base em percepções positivas excessivas. Na linguagem típica dos traders, essa prática pode ser descrita como uma venda a descoberto em uma bolha.

Essa ideia não é nova, então por que foi tão surpreendente para o mercado e seus clientes que ele estivesse operando vendido na bolha do subprime?

A resposta simples pode ser vista na reação dos clientes de Burry. Além de não conseguirem enxergar a formação da bolha, eles também não imaginavam que o setor imobiliário geraria uma bolha daquela forma. Este seria um ponto de vista considerado realista, já que o mercado imobiliário é um dos investimentos mais confiáveis da história. No entanto, não se tratava apenas de uma questão imobiliária. O problema estava nos empréstimos subprime, nunca antes vistos em volume tão alto. Burry foi capaz de identificar sua instabilidade e estava disposto a fazer uma aposta gigantesca com base nisso.

Inquietação entre os investidores

Embora seus clientes não gostassem do que ele estava fazendo, eles eram obrigados a manter o dinheiro em seu fundo. O Scion tinha uma regra que determinava que o dinheiro deveria ser mantido por no mínimo um ano no fundo. Isso não impediu os clientes de reclamarem e fazerem muita pressão, o que colocou Burry exatamente na posição que ele tentou evitar desde o início: lidar diretamente com seus clientes. Ele disse especificamente a esses clientes que fazia apostas pouco ortodoxas e que eles não deveriam avaliá-lo no curto prazo, mas no longo prazo. Como costuma acontecer, as pessoas não deram ouvidos.

Como Michael Burry disse uma vez:

No início, as pessoas investiam em mim por causa das minhas cartas. E então, por algum motivo, depois de investirem, eles pararam de lê-las.”

Michael Burry e a crise do subprime

Aqui temos o Scion, comandada por Burry, cheio de CDSs. Para ele, esses títulos são tão preciosos como ouro, mas esse ouro está em um navio e o mar está agitado. Michael Burry é um verdadeiro capitão; no entanto, só ele conseguia enxergar o porto.

Ele até tentou levar essa estratégia a um novo nível, abrindo um segundo fundo dedicado aos CDSs; essa aposta poderia chegar a bilhões de dólares. Ele chamou esse segundo fundo de Milton’s Opus, como referência ao livro “Paradise Lost”. Isso, mais uma vez, não fez sucesso entre as pessoas. Além de não investirem nesse segundo fundo, elas nem entenderam o nome.

Além disso, as pessoas achavam difícil entender por que empresas como a Goldman Sachs venderiam esses CDSs se eles fossem uma compra tão boa assim. As pessoas não conseguiam entender que Burry estava à frente de todos ao enxergar o valor desse investimento. Isso ficou claro em junho de 2005, quando o Goldman Sachs perguntou a Burry se ele queria aumentar seu volume de negócios para US$100 milhões.

Em outubro de 2005, Michael disse oficialmente a todos os seus investidores o que estava fazendo – não que fosse um grande segredo até ali. Dentro de algumas semanas, tudo começou a estourar. As pessoas foram atrás do Goldman Sachs para operarem vendidos no mercado imobiliário, assim como o Scion.

A reviravolta

A maré havia mudado totalmente quando o Deutsche Bank entrou em contato com o Scion. O banco rompeu o vínculo com ele devido à sua agressividade na compra de swaps, e agora eles queriam recomprar os primeiros seis swaps que ele havia comprado deles. Burry os vendeu de volta com lucro, então eles imediatamente pediram mais. O banco estava disposto a pagar por todos os CDSs que ele detinha.

O Goldman Sachs foi o próximo a ligar para Burry, pedindo para comprar alguns de seus CDSs. Para testar o cenário, Burry ligou para o Bank of America para ver se poderia comprar mais alguns, mas eles não estavam mais vendendo. Assim como os outros, eles só queriam comprar.

O mercado havia mudado, e a percepção comum estava se movendo na direção de Burry. Agora tudo o que ele precisava fazer era esperar a inevitável avalanche de dinheiro.

O pico da crise

No início de 2007, as previsões estavam se tornando fatos. As hipotecas subprime estavam saindo de suas taxas introdutórias – os “teasers”. As taxas introdutórias eram pagamentos baixos no início da hipoteca, mas que logo dispararam, causando muitas inadimplências. Ao mesmo tempo, Burry estava tendo dificuldades. Para manter sua posição, ele teve de abrir mão de parte de sua equipe e de uma fração de suas posições. Isso é significativo, pois esses CDSs estavam se tornando vitórias infalíveis, de modo que a sua venda no mercado consumia os ganhos que os títulos renderiam.

Em meados de 2007, Bear Stearns e Goldman Sachs estavam desmoronando publicamente. Quando Burry entrou em contato com as empresas com as quais estava negociando, de repente as pessoas estavam doentes ou davam outras desculpas. No final de junho, eles conversaram com Burry para marcar corretamente o valor desses CDSs, já que seus relatórios os subestimavam mais e mais a cada mês.

No final de julho, esses relatórios eram populares entre aqueles que previam o crash do subprime. Isso incluía Greg Lippmann, um trader do Deutsche Bank. Foi ele quem reiniciou o contato com Burry, copiou o plano de Burry e ganhou muito dinheiro e fama com isso. O nome de Burry não foi ouvido na época.

Michael Burry após a crise

Apesar de não ter ficado famoso pelas suas operações visionárias, Burry se deu muito bem. Ao final dessa longa jornada, Burry havia obtido cerca de US$100 milhões para si próprio. Os rendimentos foram ainda mais impressionantes para seus clientes: US$725 milhões. Tirando taxas e despesas, um cliente que permaneceu no Scion o tempo todo obteve um retorno de cerca de 500% sobre seu capital inicial.

O único gosto amargo dessa história foi que ninguém agradeceu a Burry ou se desculpou publicamente por todas as dúvidas levantadas. Não admira que o Burry não goste das pessoas.

No entanto, ele acabou ganhando sua fama. Michael Lewis escreveu um livro sobre a bolha do subprime em 2013 chamado The Big Short. A versão cinematográfica foi lançada em 2015, e Michael Burry foi interpretado por Christian Bale. A moral da história? Siga seus princípios e você também poderá se tornar o Batman – ou pelo menos obterá uma fração da fortuna de Bruce Wayne.